Brun Blaà: O Pulsar da Vida em Movimento. A Cia Catarsis nos convida a mergulhar em um universo onde a vida pulsa e se expande, indo de um "pequeno espaço" para um mundo sem limites. O espetáculo Brun Blaà, uma obra de "Teatro para bebês", se revela como uma jornada sensorial e poética, que dialoga não apenas com a primeira infância, mas com a essência da experiência humana. A sinopse já nos introduz a esse ciclo de vida, onde a "percepção das diferenças se estabelece" e a "busca de pertencimento" se torna um tema central.
O que imediatamente salta aos olhos é a maestria com que o grupo constrói uma dramaturgia que não se apoia na narrativa verbal, mas na "ritualização" do corpo, do tempo e dos elementos cênicos. Assim como observei na resenha do Teatro Lambe-Lambe, a dramaturgia aqui reside na "integralidade da produção" de cada momento, cada gesto e cada elemento. Os atores Ana Paula Castro e Vladimir Camargo, com a direção de Marcelo Peroni, demonstram uma pesquisa aprofundada na linguagem da primeira infância, que remete a grandes pensadores e pesquisadores.
O diálogo com as teorias de pensadores como Rousseau, Piaget, Vygotsky e Montessori é imediato, pois o espetáculo torma-se uma espécie de materialização cênica dessas ideias. A obra de Rousseau, "Emílio, ou Da Educação", defende a importância da educação natural, que respeita o tempo e o desenvolvimento da criança. Da mesma forma, Brun Blaà parece honrar a necessidade de um tempo de exploração, permitindo que a plateia de bebês absorva a experiência em seu próprio ritmo.
Os atores construíram um corpo cênico "ritualizado", um “corpo de bebê”, utilizando uma movimentação coreográfica e semiótica que remete à neurocognição e à aprendizagem na primeira infância. O modo como eles se movem, a atenção aos detalhes e a delicadeza dos gestos criam um ambiente de escuta e segurança. A escolha por poucas cores e elementos "naturais" contribui para o foco sensorial, estimulando a percepção dos bebês sem sobrecarregá-los. Essa abordagem se alinha à filosofia de Maria Montessori, que valorizava um ambiente simples e organizado para facilitar a concentração e o aprendizado autônomo.
A neurolinguística e as pesquisas de Michael Tomasello sobre a intersubjetividade e a atenção compartilhada encontram um eco potente na cena. O estado de atenção dos bebês é o verdadeiro termômetro do espetáculo. A troca de olhares, a reação aos sons e a forma como a plateia se conecta com os atores e com os objetos são a própria dramaturgia da performance.
Em um mundo onde os limites são constantemente expandidos e "as escolhas são inevitáveis", Brun Blaà nos lembra que a busca por pertencimento começa em um espaço íntimo de contato e descoberta. É um espetáculo que celebra a vida em sua forma mais pura, mostrando a beleza das "oposições" e a riqueza dos "encontros".
Brun Blaà é mais do que um espetáculo para bebês; é uma experiência que nos reconecta com o nosso primeiro olhar sobre o mundo. Um trabalho de profunda pesquisa, sensibilidade e afeto.
Minha admiração e meu afeto à Cia Catarsis.
Juliana Calligaris